Al-Madan IIª série, n.º 23, Novembro 2020

 

EDITORIAL

 

Nada nos preparou para a crise pandémica com que a COVID-19 ensombrou 2020, por muito que se invoquem agora previsões dos riscos de uma ameaça viral global, mais próximas do argumento de um “filme-catástrofe” de Hollywood do que da vida real, pensávamos. Em menos de dez meses, o trágico balanço regista perto de 39 milhões de infectados e mais de um milhão de mortos em todo o mundo. A maioria da população mundial sofre directa ou indirectamente o forte impacto negativo nas economias e nas sociedades, muitas delas enfrentando dramáticos aumentos nos níveis de pobreza e exclusão.

A urgência de encontrar uma resposta eficaz para a situação, e a consciência de que ela passará essencialmente pela descoberta, operacionalização e aplicação massiva de uma ou várias vacinas que garantam algum tipo de imunidade, recolocou a Ciência e a investigação médica no centro das atenções e do investimento público e privado. Infelizmente, outras áreas da investigação científica e aplicada sofreram drásticas reduções de recursos financeiros e humanos, agravadas por períodos de confinamento total ou parcial que desorganizaram instituições, suspenderam ou anularam projectos e transformaram a vida pessoal, profissional ou académica de quase toda a gente.

Em Portugal, a crise afectou particularmente os sectores do Turismo e da Cultura, nomeadamente os ligados à Arqueologia. Acentuou-se o peso da prática arqueológica subsidiária da construção civil, e mesmo aí a troco do agravamento das condições de trabalho e de higiene e segurança, e do aumento da precariedade contratual. Os profissionais de Arqueologia, as suas associações sindicais ou de natureza cívica, os académicos e outras personalidades e cidadãos não se eximiram das suas responsabilidades sociais numa crise com nunca conhecêramos. Contribuíram para avaliar e diagnosticar a situação, identificar e propor medidas, reivindicar a sua aplicação e responsabilizar as entidades competentes pela viabilização, execução e/ou fiscalização das mesmas.

Nas páginas desta edição da Al-Madan impressa, vários contributos são prova disso mesmo.

Mas há outros temas de leitura que, esperamos, poderão contribuir para amenizar a vivência deste período difícil. Desde logo, o dossiê dedicado à conservação e reabilitação do Património arqueológico, tradicional, monumental ou contemporâneo, que reúne uma selecção de comunicações apresentadas ao ENCORE 2020 - 4.º Encontro de Conservação e Reabilitação de Edifícios, realizado no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa (3-6 Nov. 2020).

Em registos diferentes, há ainda crónicas de temática e conteúdos muito variados, artigos de opinião, de Arqueologia e Etnoarqueologia, dedicados a estudos cerâmicos, aplicados ao Património construído ou à História da Arqueologia portuguesa. Noticiário arqueológico diverso, informação sobre eventos realizados ou a realizar, livros e revistas recentemente editados completam o volume. Por fim, recortes de imprensa ilustram temas que, mesmo na conjuntura presente, marcaram a actualidade nacional.

Assim sendo, votos de boas leituras, em segurança e com saúde!

 

Jorge Raposo [in p. 3]

 

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