Al-Madan Online IIª série, n.º 23, Tomo 1, Janeiro 2020

 

EDITORIAL

 

As presentes diversidade e proficiência da Arqueologia portuguesa estão bem patentes nas páginas deste tomo da Al-Madan Online. Aqui encontramos os resultados de trabalhos de natureza preventiva, mas também de projectos de investigação plurianual, em sítios como a Necrópole das Touças (Sabrosa), o Castro das Coroas (Cinfães), as estruturas defensivas do Cerro do Castelo de Alferce (Monchique) e do Castelo de Miranda do Douro, o povoado fortificado do Outeiro do Circo (Beja), ou os contextos urbanos da Rua de Santa Margarida, em Santarém. À diversidade geográfica e de realidades crono-culturais associam-se diferentes enquadramentos institucionais e abordagens técnico-científicas e metodológicas multidisciplinares. Estas vão da prospecção de superfície às sondagens de diagnóstico e ao acompanhamento de obras, incluindo a incorporação da Geofísica, da aerofotogrametria com drones e da modelação tridimensional de terreno no processo de intervenção e investigação arqueológica. Sem esquecer a necessária sociabilização do conhecimento assim produzido através da Educação Patrimonial.

A abrangência geográfica é alargada ao mundo da lusofonia, através de artigo dedicado aos fornos de cal artesanais de Estaquinha, em Moçambique, que traça paralelos com os conhecidos em território português, em destaque no tomo anterior.

Seguem-se estudos sobre os botões de uniformes militares ao tempo da Guerra Peninsular resultante das invasões francesas (1807-1814), o sinete municipal de Vila Franca do Campo, na Ilha de S. Miguel (Açores), e a porcelana decorada de uma tipologia muito particular – kinrande – identificada entre o espólio da Rua da Judiaria, em Almada.

Três temas justificam a livre expressão da opinião de investigadores portugueses: os mecanismos de valoração do Património, tendo por base a arte rupestre do Vale do Rio Côa, em Portugal, e de Siega Verde, em Espanha; as dinâmicas de (re)construção e interpretação do Passado em Arqueologia; e o movimento cidadão gerado por obra que afecta a Anta 1 de Vale da Lage (Tomar).

A arte de trabalhar o couro volta a merecer publicação, agora com um texto dedicado aos estojos dos séculos XIII-XIV; outro artigo analisa o impacto das reformas pombalinas em Lisboa, após o terramoto de 1755, no modelo urbano de outras cidades portuguesas e brasileiras; um terceiro cruza várias fontes para perceber o que sucedeu à comunidade muçulmana de Alcácer do Sal após a reconquista cristã, em 1217.

Como é habitual, o tomo encerra com noticiário arqueológico variado, recensões e destaques de livros e revistas apresentados nos últimos meses. Dedica ainda espaço à partilha de informação sobre eventos científicos e patrimoniais, com balanço de alguns já realizados e agenda dos entretanto anunciados.

São 180 páginas onde, creio, se encontrarão bons momentos de leitura.

 

Jorge Raposo [in Al-Madan Online, 23 (1): 3]

 

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