Al-Madan Online IIª série, n.º 23, Tomo 2, Julho 2020

 

EDITORIAL

 

Nos últimos meses, a crise pandémica gerada pela Covid-19 concentra, compreensivelmente, as nossas preocupações individuais e colectivas. Até à data, um vírus altamente contagioso infectou rapidamente mais de 12 milhões de pessoas em todo o mundo, causou um número de mortes superior a 550 mil e continua em crescimento acelerado, tanto nos países com maiores dificuldades económicas e sociais, como naqueles onde são desvalorizadas as medidas de contenção apropriadas. Em Portugal, a dramática contabilidade regista mais de 45 mil infectados, dois terços dos quais felizmente já recuperados. Mas várias centenas necessitaram de internamento hospitalar, parte deles em unidades de cuidados intensivos, com sofrimento e sequelas assinaláveis e o trágico balanço de mais de 1600 mortes.

Esta situação obrigou a alterações, por vezes drásticas, nos comportamentos individuais e de grupo, ao nível do relacionamento social e das condições de vida e de trabalho. Só o distanciamento e a redução dos contactos físicos minimizaram com eficácia o insidioso contágio. A suspensão ou redução temporária de múltiplas actividades gerou uma crise cuja dimensão, profundidade e durabilidade ainda não estamos em condições de avaliar, mas terá seguramente graves implicações na vida de muita gente. Forçou ainda a transformação ou reinvenção social, privilegiando as tecnologias e os recursos digitais para situações que, até aí, obrigavam a trabalho presencial ou ao uso de materialidades diversas. A produção e disponibilização de conteúdos nas várias plataformas disponíveis na Internet aumentou substancialmente, naquela que é das poucas consequências positivas de um péssimo contexto. Sem se substituírem às inegáveis potencialidades e virtuosidades de outros suportes, os conteúdos digitais mitigaram os efeitos do distanciamento e da perda de mobilidade, surpreendendo, por vezes, pela pertinência, qualidade e criatividade.

Como seria de esperar, a produção editorial da Al-Madan Online manteve-se e a sua procura acompanhou esse movimento. A revista atraiu mais de 5100 leitores de quase todo o mundo nos primeiros seis meses de 2020, o que traduz o valor semestral mais elevado de sempre.

O segundo semestre abre agora com um novo tomo, que leva até esses e outros leitores a produção intelectual de um vasto conjunto de autores, em crónicas, artigos de divulgação arqueológica e patrimonial, estudos e noticiário diverso. Permitam-me que destaque o espaço dedicado à arte paleolítica do vale do Côa, património nacional e da Humanidade, quer com o primeiro artigo de fundo sobre os recentes achados de novas gravuras associadas a contextos arqueológicos de estratigrafia bem definida, quer com um balanço do papel desempenhado pelo simpático e sempre perspicaz “Homem do Paleolítico”, na série Bartoon e noutras criações do cartoonista Luís Afonso.

São apenas exemplos da diversidade evidenciada pelo índice, certamente traduzível em bons momentos de leitura, com prazer e saúde. Votos de que assim seja!

 

Jorge Raposo, 9 de Julho de 2020 [in Al-Madan Online, 23 (2): 3]

 

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