Al-Madan IIª série, n.º 24, Novembro 2021

 

EDITORIAL

 

O ano de 2021 trouxe-nos alguma serenidade e confiança para enfrentar a crise pandémica gerada pela Covid-19, graças ao intenso esforço de vacinação que protegeu a esmagadora maioria da população portuguesa. Infelizmente, isso não evitou que, no nosso país, se contabilizem mais de 18 mil mortes até à data, sendo que, a nível mundial, esse número ultrapassa já os 5 milhões e aumenta dramaticamente cerca de 200 mil pessoas por dia, com especial incidência nos países mais desfavorecidos ou mais descuidados na prevenção.

Com o conforto relativo da situação presente, em Portugal, as pessoas e as diferentes áreas de actividade reagem a quase dois anos de dificuldades, ainda que de forma diferenciada e ajustada ao maior ou menor grau de afectação e à sua capacidade de resiliência.

Nesse plano, o sector da construção civil regista um dos menores impactos, com valores mais baixos de recuo em 2020 e perspectiva de crescimento superior à do conjunto da economia nacional. Em particular, a reabilitação do edificado regista uma evolução positiva assinalável e bem-vinda por várias razões, entre as quais avulta a da sustentabilidade económica, social e ambiental.

Quando, como é frequente, essa reabilitação incide sobre imóveis ou conjuntos com valor histórico ou patrimonial, levantam-se, contudo, questões mais complexas que decorrem dos normativos e das recomendações de boas práticas profissionais. A sua aplicação depende também da dinâmica resultante da investigação aplicada, da experiência acumulada e da partilha e diálogo multidisciplinar.

Com esse objectivo, a Universidade de Aveiro organizou o CONREA 2021 - Congresso da Reabilitação, dedicado precisamente à sua aplicação ao Património cultural edificado. Um pequeno lote de comunicações é publicado nesta Al-Madan, em dossiê que trata desde a reabilitação de uma anta do IV milénio a.C. (em Vouzela), à preservação das casas gandaresas que pontuam os municípios de Vagos, Mira e Cantanhede, ou das aldeias avieiras do Tejo, com destaque para a do Patacão de Cima (Alpiarça). Inclui ainda o estudo detalhado das argamassas, ligantes e rebocos aplicados tanto no Mercado do Bolhão e no Teatro Nacional de São João (ambos no Porto), como na Casa da Pesca da Quinta de Recreio dos Marqueses de Pombal (Oeiras). Termina com uma abordagem geral à metodologia de intervenção no Património arquitectónico português de influência brasileira construído no século XIX e início da centúria seguinte.

Para lá desse dossiê, e ainda no âmbito da promoção de boas práticas profissionais, esta edição divulga um documento em que estas se dirigem para a gestão dos espólios arqueológicos, um dos mais prementes e graves problemas com que se depara a Arqueologia portuguesa.

A consulta do índice ou o folhear do volume evidenciará certamente outros motivos de interesse, na área da Arqueologia e do seu percurso histórico, mas também na de outros campos científicos, da legislação do Património cultural e da História local. Por fim, há noticiário arqueológico diverso, agenda de eventos, novidades editoriais e recortes de imprensa.

Como sempre, votos de boas leituras, em segurança e com saúde!

 

Jorge Raposo [in p. 3]

 

[voltar ao índice]