Al-Madan Online IIª série, n.º 24, Tomo 1, Janeiro 2021

 

EDITORIAL

 

Há seis meses, abrimos esta página com a surpresa, a apreensão e a dor geradas em todo o Mundo pela Covid-19, com custos sociais, económicos e culturais elevadíssimos, principalmente nas sociedades e grupos mais desfavorecidos. Desde então, a comunidade científica internacional correspondeu de forma extraordinária ao forte investimento público e privado e, num prazo recorde, desenvolveu várias vacinas, duas das quais, cumpridos os critérios de avaliação das agências de saúde europeias e norte-americanas, estão já em aplicação massiva à data em que escrevemos. Podemos agora encarar 2021 com alguma esperança, certos de que, para além do sucesso das campanhas de vacinação, muito dependerá dos comportamentos individuais e de grupo. Vacinados ou não, teremos de manter o uso da máscara, a etiqueta respiratória, a lavagem frequente das mãos e o distanciamento social enquanto tal for necessário para evitar ou atenuar a transmissão viral. Em boa medida, seremos agentes directos na conformação do nosso futuro próximo, privilégio de que, infelizmente, nem todos gozam! Noutras geografias, quase sempre esquecidos e deixados à sua sorte, muitos milhões de pessoas dependem de boas vontades externas para ter acesso às vacinas e sobrevivem a condições sociais e económicas brutais e incomparáveis às nossas.

Mas 2020 não deixou de ser duro para a sociedade portuguesa, profundamente marcada pela pandemia, causa directa de mais de 6500 mortes e do significativo aumento de outras morbilidades e dos índices de pobreza, só para citar os indicadores mais evidentes à data. Ainda assim, a actividade arqueológica deu provas de resiliência, demonstrada, por exemplo, no III Congresso da Associação dos Arqueólogos Portugueses, realizado entre 18 e 22 de Novembro último. Por videoconferência, cerca de centena e meia de comunicações e posters deram origem a mais de 2100 páginas de actas já disponíveis em suporte digital de acesso livre, tal como pode ler-se em notícia deste tomo da Al-Madan Online.

Aqui também são publicados vários outros trabalhos de arqueologia de campo com ampla dispersão nacional, de Viana do Castelo e Vila Verde, no Noroeste do território continental, passando por Alenquer e Lisboa para chegar ao arquipélago dos Açores, no município de Angra do Heroísmo. A Arqueologia brasileira volta a marcar presença, tal como estudos documentais, teóricos e metodológicos de natureza arqueológica e patrimonial. A diversidade é ainda acentuada pela secção de noticiário, que relata actividades realizadas em Peniche, Torres Vedras, Almada, Moita e Mértola, passando também nos Açores, desta feita em Vila Franca do Campo, na Ilha de São Miguel, para terminar em notas de actualidade. Recensões e destaques editoriais dão conta de monografias e periódicos recentes, enquanto se agendam os eventos científicos entretanto divulgados para concretização presencial ou virtual.

Bons pretextos para ler com prazer e saúde. Que o próximo semestre nos permita recuperar parte da sociabilidade que tanta falta nos faz.

 

Jorge Raposo, 4 de Janeiro de 2021 [in Al-Madan Online, 24 (1): 3]

 

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