Al-Madan     2ª série, n.º 6, Outubro 1997

 

EDITORIAL

 

No que ao âmbito desta publicação diz respeito, a criação das carreiras relacionadas com o desempenho da actividade arqueológica na função pública e o aparecimento do Instituto Português de Arqueologia, no quadro de uma ampla reformulação orgânica do Ministério da Cultura que também envolveu o IPPAR e o IPM, constituem, sem dúvida, factos marcantes do ano em curso.

Se o primeiro corresponde a uma aspiração generalizada e de há muito manifestada, já o segundo deu origem a um debate, por vezes bastante extremado, e culminou na saída de uma legislação em cuja defesa, para além dos seus promotores, poucos se empenharam. O contexto em que se desenrolou todo este processo e uma apreciação, necessariamente datada, da estrutura, atribuições, competências e futura capacidade de intervenção do novo Instituto são o tema de uma desenvolvida reportagem, onde se dá voz a João Zilhão, presidente do IPA, mas também a um conjunto de arqueólogos que, a título individual ou em representação de organismos académicos, científicos ou profissionais, manifestam posições que vão do cepticismo moderado à oposição mais ou menos radical.

Será certamente um contributo a ter em conta para que se entendam os desenvolvimentos posteriores que esta questão venha a registar.

Todavia, para além do funcionalismo público e dos (ainda poucos) profissionais liberais, a prática arqueológica portuguesa não dispensa uma significativa componente de voluntariado, materializada nos programas de ocupação de jovens desenvolvidos pelo Instituto Português da Juventude e por diversas autarquias, mas também no funcionamento de dezenas de associações abertas à participação cívica na identificação, estudo, preservação e divulgação de um número crescente de elementos “identitários” a que se atribui valor “patrimonial”. Consequência directa da democratização da sociedade portuguesa, esse movimento associativo atingiu um ponto alto nos finais da década de 70 e inícios da seguinte, mas atravessa de há muito uma fase de recessão, procurando novos caminhos que importa analisar. Para o efeito, Al-Madan apresenta nesta edição os resultados de um inquérito que promoveu à escala nacional e que nos dá a imagem possível, em termos quantitativos e qualitativos, da distribuição no terreno das denominadas “associações de defesa do Património”, da sua estrutura, valências e recursos, constituindo-se em matéria de reflexão e debate para todos os interessados nesta matéria.

Por fim, porque a transformação de qualquer disciplina científica implica o relacionamento dialéctico entre uma prática e um corpo teórico que a enquadre e com ela se enriqueça, as páginas desta revista tornam públicos alguns dos mais recentes trabalhos arqueológicos promovidos no nosso país e acolhem ainda estimulantes reflexões epistemológicas e metodológicas sobre as condições de análise da cultura material, nomeadamente no que concerne aos métodos classificatórios e ao estabelecimento de tipologias. Mantendo as características essenciais de um projecto editorial que se pretende transdisciplinar, incentiva-se também o indispensável diálogo com outras áreas do saber, da Arqueometria à História e Arquitectura, e actualizam-se informações sobre novidades editoriais, reuniões científicas e outros eventos, criando-se ainda um espaço de apoio à exploração das potencialidades que se abrem com o recurso a um meio tão poderoso quanto a Internet.

É, pois, um novo e diversificado conjunto de colaborações que agora se disponibiliza para reflexão crítica dos nossos leitores.

 

Jorge Raposo [in p. 4]

 

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