Al-Madan 2ª série, n.º 9, Outubro 2000
EDITORIAL
Num
país pequeno como o nosso, onde nos últimos anos melhoraram substancialmente
as acessibilidades físicas (embora se mantenham graves assimetrias), ao mesmo
tempo que se encontra em franca expansão a comunicação electrónica, o facto
é que persistem afastamentos regionais incompreensíveis e redutores entre uma
comunidade científica também ela reduzida e ainda à procura do seu espaço de
afirmação social.
Sem
falar nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores, que têm a sua
especificidade própria e dão os primeiros passos no que concerne às preocupações
patrimoniais, basta deslocarmo-nos a um encontro ou outra reunião científica
no Norte ou no Sul do continente para constatar que, mesmo com temáticas
similares, com poucas e honrosas excepções, as presenças não são as mesmas,
os circuitos de diálogo e troca de experiências raramente se intersectam, com
evidente prejuízo para a circulação da informação, o debate teórico-metodológico,
o estabelecimento de consensos em torno de princípios de conduta ética e
deontológica, a defesa de interesses profissionais, etc.
Essa
realidade é acentuada pela difusão por vezes muito restrita da bibliografia
editada e reflecte-se nas próprias páginas da Al-Madan, não por
qualquer opção editorial (antes pelo contrário!), mas apenas porque, apesar
dos sistemáticos convites, são raras as colaborações que nos chegam de toda
a zona a Norte do Mondego.
A celebração do Porto como
Capital Europeia da Cultura em 2001 veio dar-nos mais uma oportunidade para forçar
a inversão desta tendência, preparando, à semelhança do que se fizera
aquando da Lisboa’94, um dossiê que trata exaustivamente a ocupação humana
na actual área metropolitana do Porto, da Pré-História aos nossos dias, ao
mesmo tempo que dá a conhecer alguns dos principais arqueossítios e inventaria
os recursos afectos à investigação arqueológica nos diferentes municípios
que a integram.
Como esperávamos, o resultado ultrapassa largamente o interesse regional e marca mais uma etapa de afirmação de Al-Madan enquanto projecto de âmbito verdadeiramente nacional, no qual se reveja a associação que lhe dá corpo (o Centro de Arqueologia de Almada), mas também os autores e leitores que, por todo o país, justificam a existência desta ferramenta de mediação, partilha e sociabilização do conhecimento.
Jorge Raposo [in p. 3]