Al-Madan 2ª série, n.º 14, Dezembro 2006
EDITORIAL
O ano de 2006 fica marcado, já na sua fase final, pela concretização da anunciada reformulação dos institutos públicos na área do Património, onde avulta a extinção do Ipa - Instituto Português de Arqueologia, com afectação das suas atribuições e competências a um novo megaorganismo, o Igespar - Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, que reúne também as do antigo Ippar - Instituto Português do Património Arquitectónico e parte das antes cometidas à Dgemn - Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. É uma transformação radical da tutela que condiciona a gestão pública e privada do Património e tem a missão de definir o futuro enquadramento da actividade arqueológica no nosso país.
Contudo, só uma maior clarificação da orgânica do Igespar e do modo como esta se traduzirá na rentabilização de recursos e na prática quotidiana, permitirá avaliar convenientemente as implicações daí decorrentes, num processo que a Al-Madan não deixará de acompanhar.
Para já, as páginas desta edição assinalam outro acontecimento com reflexos importantes na sociedade portuguesa: o início da aplicação do “modelo de Bolonha” ao ensino superior universitário e politécnico. No ano lectivo de 2006-2007, boa parte das ofertas de formação superior foram já reformuladas, no sentido de integrar o sistema português numa “Área Europeia do Ensino Superior” que reflicta os mecanismos de integração europeia nos planos da igualdade de oportunidades e da mobilidade dos cidadãos. Tendo subjacente um novo paradigma pedagógico, mais centrado na acção do aluno, a adesão a Bolonha implicou a reformulação dos graus académicos, dos planos de curso e dos conteúdos curriculares, para facilitar a sua compatibilidade e complementaridade. Um estudante europeu poderá, a partir de 2010, quando se prevê que o novo sistema esteja generalizado, circular por diferentes estabelecimentos de ensino, no seu país ou no estrangeiro, acumulando créditos transferíveis que lhe garantem a equivalência e o reconhecimento das habilitações académicas.
Trata-se de um enorme desafio ao poder político que tutela a acreditação e a avaliação do ensino superior, mas também à capacidade de resposta das universidades e politécnicos públicos e privados, dos professores e outros agentes de ensino e dos estudantes, que são incentivados a desempenhar um papel mais importante na definição e aperfeiçoamento do próprio sistema.
Em dossiê especial, Al-Madan apresenta uma síntese do processo e dos seus objectivos, da forma como o sistema de ensino português se está a reajustar e da procura que esta nova oferta suscitou na última fase do concurso de ingresso, nas áreas da Arqueologia, da História, do Património e da Conservação. São também incluídos alguns textos de opinião e é dada oportunidade aos representantes dos diferentes estabelecimentos de ensino para apresentarem as propostas pedagógicas com que respondem aos desafios de Bolonha. É um tema transversal da sociedade portuguesa, que está bem longe de interessar apenas ao meio académico.
Jorge Raposo [in p. 3]