Al-Madan 2ª
série, n.º 21, Julho 2017
EDITORIAL
A Arqueologia e a intervenção sobre o Património arqueológico
registaram profundas transformações nas últimas décadas, por razões internas ao
seu corpus teórico e metodológico, pela incorporação de novas
tecnologias e, em boa parte, devido à crescente transdisciplinaridade exigida
pela procura de resposta para questões científicas complexas e para a
satisfação das necessidades emergentes das sociedades contemporâneas.
Esse contexto cultural e social dinâmico reflecte-se
também no sistema de referências e valores individuais e de grupo associados à
Arqueologia e ao Património, induzindo alterações nas estratégias e nas
práticas públicas e privadas que, em alguns casos, têm tradução no enquadramento
legal nacional e internacional.
Estas considerações generalistas adquirem maior acuidade se
aplicadas à Arqueologia e ao Património subaquático, onde é já possível avaliar
o impacto da Convenção aprovada pela UNESCO em 2001, e a sua compatibilização
com o Direito português e internacional.
É esse o tema central desta edição da Al-Madan, com
artigos que o discutem na perspectiva jurídica e pela
apresentação de casos concretos de identificação, investigação, conservação,
valorização e gestão de Património cultural subaquático de Época Contemporânea,
âmbito que é limitado por constrangimentos específicos. As análises conjugam
Arqueologia e Património com Direito, História, Antropologia, Arquivística,
Conservação, Biologia, Geofísica, Informática, Biometria, Educação Patrimonial…
e dão-nos uma visão de conjunto muito rica e diversificada sobre a presente
situação portuguesa.
Como é hábito, o volume tem outros motivos de interesse. Na
interface com a Paleontologia, questiona-se a construção teórica de uma nova
unidade cronostratigráfica, o “Antropocénico”.
No plano estritamente arqueológico, trata-se a questão dos
artefactos pré-históricos em sílex versus “pedras de fúsil” dos séculos
XVII-XIX e, também, a temática e a função das gemas gravadas em Época Romana,
sendo ainda apresentados resultados de intervenções em Almada e Odemira.
Em artigo de opinião, discutem-se as anunciadas alterações ao
modelo de gestão do Património cultural português. A historiografia da
Arqueologia nacional é enriquecida com a divulgação do mais antigo registo
conhecido da escavação de um sítio pré-histórico no nosso país e, na rúbrica de
Património, pode ler-se um estudo de Arqueologia industrial sobre o “Arco” de Euston, em Londres, e outro dedicado às estruturas
medievais e modernas do castelo de Portel.
A encerrar, há ainda noticiário arqueológico diversificado,
balanço de vários eventos e edições recentes, informação breve sobre outras
novidades editoriais e, a fechar, recortes da comunicação social portuguesa.
Resta lembrar que, em paralelo, tem ao seu dispor mais um tomo
da Al-Madan Online, com outros conteúdos de acesso gratuito e
generalizado em https://issuu.com/almadan.
Nestas páginas ou na Internet, votos de boa leitura...
Jorge Raposo [in p. 3]