Al-Madan Online IIª série, n.º 22, Tomo 4, Julho 2019

 

EDITORIAL

 

A importância das recensões bibliográficas enquanto elementos de auto-avaliação para os autores recenseados, mas também de reflexão e debate científico com os seus pares, é tema de que se ocupa a crónica que abre o presente tomo da Al-Madan Online, num espaço onde é ainda evocado o ambiente social e cultural que se viveria em Santarém nas vésperas da reconquista cristã, através da obra de autores nascidos na Shantarîn islâmica por meados do século XI.

Da crescente extensão dos projectos de investigação arqueológica planificada a contextos modernos e contemporâneos, é exemplo artigo dedicado ao levantamento dos fornos de cal na freguesia de Pataias (Alcobaça), onde, da segunda metade do século XIX ao final do século XX, funcionou o maior e mais importante complexo artesanal deste tipo conhecido em Portugal.

A Arqueologia portuguesa está igualmente representada pelos resultados de acompanhamento no centro histórico de Vinhais, que identificou parte do adarve e da barbacã do respectivo castelo, datada do século XVI. E, do outro lado do Atlântico, o sítio do Boqueirão da Lajinha permitiu abordar a relação entre a arte rupestre e as comunidades locais da Área Arqueológica de Sobradinho (Bahia, Brasil), na perspectiva da Arqueologia Sensorial.

Interagindo com outras áreas disciplinares, a necrópole da Ermida do Espírito Santo, em Almada, forneceu elementos de análise bioarqueológica para um conjunto de 88 indivíduos aqui inumados, e clarificou vários aspectos da vida e da morte nesta cidade, sobretudo nos séculos XVII e XVIII.

Sobre representações simbólicas associadas à superstição e ao culto religioso, trata também o estudo de parte do espólio recolhido pelo arqueólogo Hipólito Cabaço no castelo de Alenquer, ao longo das décadas de 1920 e 1930. Um segundo estudo centra-se nos botões usados ao tempo de D. João VI, designadamente em exemplares produzidos entre 1807-1808 e 1816, quando o futuro monarca português ostentava o título de Príncipe Regente do Reino do Brasil, durante o exílio da corte forçado pelas invasões francesas.

A pertinência da Educação Patrimonial é bem ilustrada por projecto que levou às freguesias do Município de Beja um conjunto de actividades para divulgar o património regional da Idade do Bronze, desafiando as comunidades e os agentes locais a interpretar o território e as suas transformações nos últimos 3000 a 3500 anos.

O estudo das artes do couro na produção medieval ibérica conhece nova publicação, desta feita dedicada aos baús de couro fino com incisões de inspiração gótica, e as ferramentas tradicionais usadas na extracção do sal na zona da Figueira da Foz são também analisadas, em termos morfológicos, funcionais e lexicais.

Por fim, há noticiário arqueológico diverso, destaque de iniciativas editoriais recentes, comentários a eventos científicos e/ou patrimoniais e uma agenda dos que já se anunciam para os próximos meses.

Tudo razões para bons momentos de leitura!

 

Jorge Raposo [in Al-Madan Online, 22 (4): 3]

 

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