Al-Madan Online IIª série, n.º 24, Tomo 2, Julho 2021

 

EDITORIAL

 

Ao contrário do que os mais optimistas esperariam, o primeiro semestre de 2021 terminou sem que a crise pandémica da Covid-19 permitisse retomar a plenitude da nossa vida pessoal e profissional, mal-grado o extraordinário esforço de vacinação acentuado nas últimas semanas. Continuamos a depender da disponibilidade das diferentes vacinas, da capacidade organizativa para as administrar, do esforço das equipas de saúde e dos que as apoiam (onde é justo destacar o papel dos muitos trabalhadores das autarquias locais que garantem o funcionamento dos centros de vacinação, entre várias outras tarefas) e, principalmente, dependemos da adesão individual ao processo de vacinação e ao cumprimento de regras tão básicas quanto o uso de máscara, a higienização frequente das mãos e o distanciamento social. É um esforço nem sempre bem aceite e fácil de enfrentar, mas compreensível e diminuto se comparado com a alternativa: mais mortes, piores cuidados de saúde para todas as patologias, arrastar da crise económica e social, com consequências que chegam a ser dramáticas para muita gente.

Neste contexto, alguns sectores de actividade têm sofrido menor impacto, ainda que, por vezes, à custa da precarização e da qualidade das condições de trabalho. Entre eles está o da construção civil, que arrasta boa parte da Arqueologia de campo hoje realizada em Portugal, ligada a intervenções preventivas ou de emergência desencadeadas por obras públicas e privadas. Mas está também o da expansão aparentemente descontrolada da agricultura intensiva, que gera grande preocupação ambiental e patrimonial, principalmente no Alentejo.

As páginas deste novo tomo da Al-Madan Online servem de suporte à apresentação de resultados dessa actividade de campo, mas também à reflexão sobre o enquadramento legislativo das grandes operações agrícolas, quanto ao papel da tutela e de outros agentes individuais e colectivos, sobre as relações entre teoria e prática arqueológica, ou a interacção entre formador e formando no ensino da Arqueologia.

A aplicação da inteligência artificial na identificação de ânforas romanas e a preservação de vestígios arqueológicos orgânicos (madeira, no caso) por processo de mineralização são temas também tratados, tal como estudos sobre tijolos maciços usados em estruturas industriais do século XX, e marcas de canteiro registadas em elementos pétreos de templos medievais.

Entre outros artigos e notícias, a abrir temos dois textos que resultam de comunicações apresentadas ao Encontro O Mundo Animal na Romanização de Península Ibérica, realizado em 2015. A publicação das respectivas actas, que estava pendente, foi recentemente abandonada pela organização, o que abriu espaço para esta alternativa de edição.

Antes disso, contudo, um renovado espaço de crónica, aqui dedicado ao sempre polémico mundo das “antiguidades arqueológicas”.

Votos de que mais esta Al-Madan Online possa ser lida com saúde e prazer, e o próximo semestre traga maior liberdade, estabilidade e qualidade à vida de tod@s nós.

 

Jorge Raposo, 12 de Julho de 2021 [in Al-Madan Online, 24 (2): 3]

 

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