Al-Madan Online IIª série, n.º 25, Tomo 1, Janeiro 2022

 

EDITORIAL

 

Há precisamente um ano, no final de Janeiro de 2021, recebemos com surpresa e consternação a notícia da morte de Bruno Navarro, Presidente do Conselho Directivo da Fundação Côa Parque, à qual imprimiu uma assimilável dinâmica desde que ocupou esse cargo, em 2017. Dotado de uma visão estratégica clara e sólida para a Fundação e o Museu do Côa (ver, por exemplo, artigo que subscreveu na Al-Madan impressa n.º 22, em 2019), a sua perda antevia-se difícil de superar pela instituição e pela sua equipa de trabalho.

Felizmente, constatamos não ser isso que sucede, agora sob a gestão de Aida Carvalho, empossada em Março de 2021. A Fundação celebrou condignamente os 25 anos da criação do Parque Arqueológico do Côa em Agosto último, o Museu continua a proporcionar programas apelativos aos seus públicos e as equipas de investigação multidisciplinar instaladas na zona revelam frequentemente novas descobertas. Resultados e experiências foram partilhados, avaliados e debatidos com a comunidade científica nacional e internacional no 2.º Symposium do Côa, que o Museu organizou no passado mês de Dezembro, dedicando-o precisamente à gestão e conservação de sítios com arte rupestre. Mas, no plano científico, haviam ficado já evidentes na conferência proferida em Julho por três dos investigadores do Côa, André Santos, Miguel Almeida e Thierry Aubry, numa sessão organizada pela ADECAP - Associação para o Desenvolvimento da Cooperação em Arqueologia Peninsular cuja gravação pode ser consultada na Internet (https://bit.ly/3r1IY8B). Conhecemos cada vez melhor os grupos de caçadores-recolectores que produziram as extraordinárias manifestações artísticas do Côa, o território e as condições ambientais em que o fizeram, bem como a sua integração num modelo cultural com vasta difusão regional.

Nas páginas desta Al-Madan Online ficamos agora a conhecer mais um achado excepcional, desta feita no sítio da Faia, onde, 18 a 20 mil anos antes de nós, alguém gravou habilmente um cavalo numa rocha granítica. É a primeira figura paleolítica conhecida nesse suporte em todo o mundo! O estatuto de Património Mundial atribuído pela UNESCO ao Vale do Côa, em 1998, revela-se cada vez mais uma decisão de elementar justiça. O futuro reservar-nos-á seguramente novas descobertas, que consolidarão o sítio e o museu nos planos científico e museológico português e além-fronteiras.

Naturalmente, o Côa não esgota os temas que podem ser encontrados nas páginas seguintes.

Trabalhos de arqueologia e antropologia biológica, a par de estudos de materiais e sítios patrimoniais de tipologia e cronologia muito diversificadas, complementados com noticiário de intervenções, eventos e edições recentes, proporcionarão seguramente boas horas de leitura.

Votos de que esta se faça com prazer e saúde, apesar das circunstâncias difíceis que continuamos a enfrentar.

 

Jorge Raposo, 25 de Janeiro de 2022 [in Al-Madan Online, 25 (1): 3]

 

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