Al-Madan Online 2.ª série, n.º 25, Tomo 2, Julho 2022

 

EDITORIAL

 

Num país que dispõe de extensa costa atlântica e territórios insulares, com um Passado fortemente ligado à navegação marítima e à interacção com comunidades de muitas e diferentes geografias, onde chegámos ou que até nós chegaram, os vestígios patrimoniais preservados nas águas sob gestão portuguesa são potencialmente muito elevados e seguramente relevantes para a interpretação cultural, técnica e económica de uma vasta região intercontinental até períodos históricos muito recuados.

Descobrir, interpretar, preservar e gerir esse abundante e valioso Património Cultural subaquático é, portanto, um desafio à capacidade e competência de múltiplos agentes individuais e colectivos, públicos e privados. Contudo, esta agência interdependente é fortemente condicionada pelo enquadramento legislativo e pela estratégia e prática da entidade de tutela por este definida, hoje a Direcção Geral do Património Cultural (Dgpc).

Por várias razões e com particular intensidade nos tempos mais recentes, a acção (ou inacção) desta tutela central tem sido contestada de forma veemente em várias circunstâncias e sob diferentes perspectivas do que deveria ser o exercício da sua missão e competências. A sistematização e gestão da informação relativa aos trabalhos arqueológicos realizados e ao Património arqueológico conhecido no território e nas águas portuguesas, traduzida em base de dados e suporte cartográfico de acesso público (ainda que controlado por razões de segurança e conservação patrimonial), é uma das áreas onde são apontadas claras insuficiências à Dgpc. Falta de meios (humanos, técnicos e financeiros) ou inaptidão funcional, incapacidade organizativa, inabilidade de gestão administrativa e técnica, são algumas das causas apontadas para esta situação.

No que concerne ao Património Cultural subaquático, a conjuntura justifica o artigo de opinião que abre as páginas desta Al-Madan Online, logo a seguir ao habitual e sempre reflexivo espaço de crónica de actualidade. O destaque desse artigo vai para o apelo à criação urgente de melhores condições de registo e divulgação dos sítios e achados que pontuam a costa marítima, rios e outros meios húmidos.

É um tema a merecer justa atenção, tal como vários outros também presentes neste tomo, nomeadamente estudos dedicados ao mundo romano e da Alta Idade Média, ou artigos de Arqueologia e de Património de natureza muito abrangente. Há ainda noticiário arqueológico e de eventos científicos, finalizando com recensões e novidades editoriais.

São propostas para algumas boas horas de leitura, com votos de que esta se faça com prazer e saúde.

 

Jorge Raposo, 21 de Julho de 2022 [in Al-Madan Online, 25 (2): 3]

 

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