Al-Madan Online n.º 26, Tomo 1, Janeiro 2023
EDITORIAL
A investigação arqueológica e antropológica que tem vindo a incidir sobre sítios
e contextos do núcleo urbano da cidade de Almada ocupa um espaço de destaque
neste tomo da Al-Madan Online. Aí se inclui a partilha dos resultados
iniciais do projecto científico que encerrou um hiato de quase 20 anos e, desde
2020, retomou os trabalhos na Quinta do Almaraz, um dos grandes povoados da
Idade do Ferro conhecidos na região. Caracterizar a ocupação do sítio ao longo
do 1.º milénio a.C. é o objectivo central deste projecto, recorrendo para tal à
prospecção geofísica e a novas escavações arqueológicas, sem esquecer a
sistematização dos dados das campanhas das décadas de 1980-1990.
Esta última preocupação é evidenciada num segundo artigo, que divulga o estudo
do espólio osteológico humano recolhido entre 1986 e 2001 no fosso que
delimitava o povoado pelo lado Sul. Foi possível não só quantificá-lo e
descrevê-lo em termos físicos e patológicos, mas também equacionar questões
relacionadas com as suas condições de depósito, ou a hipótese da eventual
integração num espaço de necrópole, com a consequente atenção às práticas
funerárias que poderão ter sido praticadas pelas comunidades locais. Mas o
núcleo urbano antigo de Almada é ainda objecto de outro texto, que resulta do
acompanhamento de obra de remodelação de imóvel situado no Pátio dos Rolins. A
intervenção arqueológica revelou um novo conjunto de silos de cronologia
medieval-moderna, que acresce a outros já conhecidos na zona, o mais impressivo
dos quais preservado no Núcleo Medieval-Moderno da Rua da Judiaria, que recente
acção de marketing rebaptizou de “Museu de Almada - Covas de Pão”.
Reabriu totalmente remodelado em 2022 e merece uma visita.
No conjunto, é uma dinâmica de investigação e divulgação que satisfaz cidadãos e agentes do movimento associativo almadense. Esperamos que seja continuada, nomeadamente através da rápida publicitação dos resultados da recente intervenção na fábrica de salga de Cacilhas, de época romana, quer ao nível dos trabalhos arqueológicos, quer do muito discutível “programa de valorização” cuja obra que ainda decorre.
Mudando de temática, as páginas desta Al-Madan Online dão também sequência ao debate sobre a situação da Arqueologia subaquática em Portugal, com o contraditório de artigo publicado no tomo anterior, em Julho de 2022. É um contributo importante para o diálogo construtivo e sereno que visa melhorar estratégias e práticas na identificação, preservação e gestão de bens culturais em meio aquático ou húmido.
Para além do já destacado, os leitores certamente encontrarão adiante outros motivos de interesse e boa leitura. Como sempre, votos de que esta seja prazerosa e possa decorrer com saúde e em segurança.
Jorge Raposo, 25 de Janeiro de 2023 [in Al-Madan Online, 26 (1): 3]