Al-Madan Online 2.ª série, n.º 26, Tomo 2, Julho 2023

 

EDITORIAL

 

Renovar o estudo de peças arqueológicas incorporadas em colecções reunidas em recolhas antigas produz frequentemente resultados surpreendentes e valiosos, quer porque estas são abordadas sob novas perspectivas teóricas e metodológicas, quer porque se lhes aplicam técnicas e tecnologias inovadoras ou de uso cada vez mais desenvolvido e disseminado.

A abrir as páginas deste tomo da Al-Madan Online está um desses exemplos, no caso aplicado a um vaso da Idade do Bronze que é pertença de uma fundação açoriana e tem paralelo num outro, exposto no Núcleo Museológico de Arqueologia de Viana do Castelo e proveniente do Monte da Ola. São significativos os avanços na descrição, caracterização, enquadramento cronológico e definição da funcionalidade desta peça específica, mas também nas considerações sobre uma tipologia cerâmica que pontua o Noroeste da Península Ibérica ao longo do 2.º milénio a.C., facilmente identificável pelo bordo largo, plano e horizontal, com a face superior preenchida por soluções decorativas muito variadas.

Ainda que a ligação deste vaso aos Açores seja apenas incidental e resulte do seu percurso pós-descoberta, o Património histórico e arqueológico desta Região Autónoma está bem presente nesta edição, quer através de estudo que ilustra o que nos podem dizer a Arqueologia, a Antropologia e a investigação histórico-documental sobre a população medieval e moderna de Vila do Porto, na ilha de Santa Maria, mas também quanto ao Património Cultural subaquático da ilha de São Miguel, no âmbito de um projecto internacional para a promoção do turismo cultural, em geral ou especificamente centrado no património arqueológico.

Estas são também preocupações transversais de iniciativas como o projecto TURARQ, que visa promover o turismo científico e cultural nos territórios de baixa densidade do Médio Tejo português, nomeadamente nos municípios de Abrantes, Constância, Mação, Tomar e Vila Nova da Barquinha. E são também inquietações de outros artigos que evidenciam as interligações entre este tipo de abordagens e a indispensável sociabilização da Arqueologia e do Património arqueológico, através de acções formativas e de Educação Patrimonial que estimulem a integração das comunidades e dos agentes locais.

Como as páginas seguintes voltam a ilustrar, são muitos e diversificados os "patrimónios" que sustentam e viabilizam este tipo de intervenção social e cultural, dos contextos pré e proto-históricos aos resultantes da industrialização e desindustrialização recente.

São apenas alguns tópicos da interessante leitura que pode proporcionar mais este tomo da Al-Madan Online. Renovados votos de que esta se faça com prazer, de boa saúde e em segurança.

 

Jorge Raposo, 5 de Julho de 2023 [in Al-Madan Online, 26 (2): 3]

 

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