Polémica a partir do texto
SOARES, António M. Monge (2005) – “Algumas Observações Sobre a Civitas de Pax Ivlia, ou de como, por vezes, não se deve confiar em levantamentos arqueológicos”. Al-Madan. IIª Série. 13: 86-88.
Espaço aberto aos principais protagonistas e a outros depoimentos que se considerem relevantes para o presente debate, em complemento do Fórum Al-Madan, acessível a todos os que queiram manifestar a sua opinião.
A propósito da "crítica" de Monge Soares à Universidade de Coimbra
Senhor Director
Sempre fui incontestável e entusiasta defensor da Al-madan, porque sempre considerei que – após o inoportuno desaparecimento da Informação Arqueológica (do IPPAR) e a inviabilidade de Arqueologia (a revista do GEAP) – Al-madan preenchia, à maravilha, um espaço noticioso e de opinião da maior importância.
Em segundo lugar, muito me regozijava por um punhado de jovens, liderado por si, Jorge Raposo, manter um dinamismo crescente, não obstante as naturais adversidades. E o Centro de Arqueologia de Almada ganhou, com inteira justiça, lugar cimeiro na Arqueologia nacional.
Al-madan era o espaço onde os arqueólogos davam conta dos seus trabalhos; a ideia de um "caderno" temático foi excelente; o convite a que especialistas traçassem, ano após ano, o balanço do que – no seu domínio de investigação – de mais notável (em seu entender) se ia fazendo, assaz oportuno.
Assim, Al-madan era aguardada com essa expectativa científica, noticiosa, simpática, sem que se pensasse, como acontece com alguns semanários e com as revistas da society, "qual será a bronca de que vai fazer-se eco desta feita?". Não havia necessidade.
Houve, no entanto, quem – inebriado pelo quotidiano televisivo, pela "caixa" do jornal sensacionalista… – não tivesse resistido à tentação das farpas, tão da nossa tradição desde Camilo a Rafael Bordalo Pinheiro. A um primeiro ataque virulento achou-se preferível não responder e esperava-se que tanto o Conselho Científico como o Director da revista mantivessem, doravante, uma atenção maior.
Tal não aconteceu no número de 2005, onde, em texto de opinião, obviamente polémico, obviamente tendencioso, a Direcção deliberou dar amplo destaque precisamente à frase mais polémica e mais tendenciosa.
"Não havia necessidade!". Al-madan prestou um mau serviço ao autor da diatribe; prestou um mau serviço à Arqueologia nacional, ao relevar um aspecto muito negativo que, a ser verdade, lançaria sobre toda a Arqueologia nacional fortes suspeitas de profunda e generalizada incompetência, pois aí se pretendeu reduzir a escombros uma dissertação de doutoramento publicada e aprovada por unanimidade, com distinção e louvor, na Universidade de Coimbra.
Poderia, Senhor Director, ter dado coito à diatribe – que, dela, a responsabilidade maior seria sempre a do seu autor; e os seus leitores, Amigo, são suficientemente inteligentes para saberem ler as linhas e as entrelinhas. Agora (e desculpar-me-á se invoco aqui a minha condição de jornalista de há mais de quatro décadas) chamar a "caixa" aquela frase maculou (a meu ver, claro!) a honra da sua Al-madan. Os leitores e, sobretudo, os colaboradores fiéis tirarão daí ilações. Como dizia meu pai, "albarda-se o burro à vontade do dono". Eu tenho pena! Para mim, Al-madan, apesar do ignóbil ataque de que nas suas páginas eu já fora alvo, continuava a estar num pedestal.
Coimbra, 21 de Novembro de 2005
José d’Encarnação