Polémica a partir do texto
SOARES, António M. Monge (2005) – “Algumas Observações Sobre a Civitas de Pax Ivlia, ou de como, por vezes, não se deve confiar em levantamentos arqueológicos”. Al-Madan. IIª Série. 13: 86-88.
Espaço aberto aos principais protagonistas e a outros depoimentos que se considerem relevantes para o presente debate, em complemento do Fórum Al-Madan, acessível a todos os que queiram manifestar a sua opinião.
Sobre o Perigo em Que se Encontra a Arqueologia Nacional
uma resposta ao Prof. José d’Encarnação
O Prof. José d’Encarnação, em dois textos publicados recentemente na Al-Madan Online, um dirigido ao Director da revista e o outro à minha pessoa, continua a saga da defesa da sua colega Maria da Conceição Lopes e dos ataques torpes que me têm sido dirigidos, desde que publiquei, no último número da Al-Madan, uma crítica ao “Catálogo de Sítios”, "um utilíssimo e exemplar catálogo de sítios arqueológicos" (http://www.uc.pt/iauc/pub/ac.html) da autoria de Conceição Lopes.
Tal como o Prof. Jorge de Alarcão, o Prof. José d’Encarnação não se coíbe de distorcer o que escrevi, de inventar e de se basear em insinuações maldosas para atingir os seus fins. Por isso, antes de prosseguir esta voragem de argumentações e contra-argumentações, será, talvez, altura de enumerar alguns factos, por ordem cronológica, relacionados com a problemática que envolve o trabalho de Conceição Lopes sobre a civitas de Pax Ivlia. Assim:
i) A certa altura, talvez em 1994 ou 1995, recebi uma carta do Prof. Jorge de Alarcão a solicitar a minha colaboração no levantamento arqueológico que a Conceição Lopes estava ou ia realizar no concelho de Serpa. Respondi afirmativamente, mas se para a freguesia de Vila Verde de Ficalho não teria qualquer problema em informar sobre qualquer sítio arqueológico que fosse do meu conhecimento, independentemente da sua cronologia, já o mesmo não faria para o resto do concelho. Isto, no entanto, apenas no que dissesse respeito aos sítios romanos, uma vez que o Dr. José Olívio Caeiro queria ou encontrava-se já a elaborar a sua tese de doutoramento sobre essa temática e, por conseguinte, a solicitação também lhe devia ser dirigida. Não sei se o foi ou não ou se ele respondeu afirmativa ou negativamente. No que me diz respeito, cumpri o prometido. É assim que aparecem, por exemplo, na “Arqueologia do Concelho de Serpa” os sítios inéditos com as entradas 94. Horta da Morgadinha (Serpa), 245. Boa Vista. Ribeira de Limas (Serpa) ou 257. Corte de D. Maria (Vila Nova de S. Bento). Muitos mais sítios pré ou proto-históricos estão referidos naquela carta arqueológica, fora da freguesia de Vila Verde de Ficalho, com origem em informações minhas, constituindo aqueles apenas exemplos do que afirmo. Por isso, não é verdade a afirmação do Prof. José d’Encarnação de que forneci apenas elementos da minha terra natal, Vila Verde de Ficalho (a propósito, sou de Lisboa!...), nem é admissível a insinuação sobre "coutadas arqueológicas" (o bom julgador por si se julga, não é verdade?...).
ii) As informações por mim fornecidas encontram-se publicadas por Conceição Lopes, na sua maioria correctamente, na “Arqueologia do Concelho de Serpa”. Daí que no artigo que publiquei na Al-Madan se possa ler: "A carta arqueológica do concelho de Serpa foi publicada em 1997 (LOPES; CARVALHO e GOMES 1997). Esperava-se que passados três anos (defesa da Tese) ou seis anos (publicação da mesma) os erros que aquele inventário apresentava pudessem ter sido corrigidos. Afinal, o seu reaproveitamento na dissertação de Doutoramento de Maria Conceição Lopes conduziu a incorrecções ainda maiores". Basta comparar as descrições, para um mesmo sítio, constantes nas duas obras.
iii) Quando foi publicada a minha crítica, colegas amigos vieram dizer-me que Professores da Universidade de Coimbra (sei agora quais) afirmavam que, se os dados publicados por Conceição Lopes e por mim referidos naquela crítica estavam errados, isso se devia unicamente a eu ter fornecido informações erradas. Não tiveram a coragem de publicar essa mentira. O Prof. Jorge de Alarcão, no seu artigo na Conimbriga, faz uma insinuação sub-reptícia sobre o tema, mas o Prof. José d’Encarnação é mais claro: "Se aqui, em Vila Verde de Ficalho, em que até fui eu [Monge Soares] que forneci as informações, o panorama é este... senhores, que será do resto?". A resposta a esta diatribe (chamemos-lhe assim, para ser simpático) dar-lha-ei no fim deste texto, mas aproveito para esclarecer que a frase que eu proferiria não era essa, mas sim "Se a transposição das descrições dos sítios da “Arqueologia do Concelho de Serpa” para o “Catálogo de Sítios” é esta, que será do resto?..."
O Prof. José d’Encarnação, ao insultar-me como o faz, devia talvez lembrar-se da sua contribuição para a “Arqueologia do Concelho de Serpa” e da troca de correspondência que teve comigo, aquando da sua publicação. Vou recordar-lhe alguns factos respeitantes ao capítulo “Epigrafia”, da sua autoria, na obra em causa:
a) Entrada 13. Ara votiva proveniente do sítio Espicharrabo 1 e depositada no Museu Arqueológico de Vila Verde de Ficalho. Uma fotografia desta ara, proveniente da Herdade de D. Brites, Serpa (assim está escrito na ficha de entrada da Biblioteca-Museu de Vila Verde de Ficalho), foi-lhe enviada por mim muito tempo antes dos trabalhos de elaboração da “Arqueologia do Concelho de Serpa”. Não a publiquei posteriormente (mas, ainda assim, muito antes da publicação da obra atrás referida) com a Dra. Manuela Alves Dias, porque esta epigrafista não queria que o Prof. José d’Encarnação pudesse ficar melindrado.
b) Entrada 39. Ara votiva proveniente de Vila Verde de Ficalho 1 e depositada no Museu referido na alínea anterior. O Prof. José d’Encarnação publicou uma leitura desta ara muito diferente da publicada pela Dra. Manuela Alves Dias e por mim próprio (Ficheiro Epigráfico, 18, 1986, Foto 84). A nossa publicação não é referida!
c) Entrada 41. Placa funerária cristã, de mármore branco da região de Ficalho. Já tinha sido publicada, em 1987, pelos autores atrás referidos (O Arqueólogo Português, Série IV, 5, 1987, p. 233-240). O Prof. José d’Encarnação não se esqueceu, desta vez, de referir a publicação anterior, mas esqueceu-se (no campo Proveniência) de dizer que a placa se encontrava embutida na argamassa que cobria uma sepultura paleocristã no sítio Vila Verde de Ficalho 1.
Perante tudo isto, como nos podemos admirar das incorrecções publicadas por Conceição Lopes?...
Por fim, atente-se que o Prof. José d’Encarnação, no texto dirigido ao Dr. Jorge Raposo, atinge o paroxismo ao escrever que a "Al-madan [...] prestou um mau serviço à Arqueologia nacional, ao relevar um aspecto muito negativo que, a ser verdade, lançaria sobre toda a Arqueologia nacional fortes suspeitas de profunda e generalizada incompetência, pois aí se pretendeu reduzir a escombros uma dissertação de doutoramento publicada e aprovada por unanimidade, com distinção e louvor, na Universidade de Coimbra". Não há pachorra!!!
E como a paciência já se esgotou, a melhor maneira de responder a todo este disparate é invocar Almada Negreiros e o seu Manifesto Anti-Dantas.
E bradar:
BASTA PUM BASTA!
PIM!
Lisboa, 6 de Dezembro de 2005
António M. Monge Soares